CAFÉLA E CRESCIMENTO LIMPO

Para quem não sabe, eu dei consultorias de comunicação para restaurantes e cafés. E para todos os meus clientes eu sempre levo o conceito Comunidade, que aprendi lá na Austrália para gerir e direcionar os businesses. Lá os restaurantes pequenos e bem sucedidos colocam os clientes, e outros empreendimentos ao redor, como prioridade e parte da família. E cara, isso além de ser correto e bonito, funciona muito bem! Foi com esse “mantra” de comunidade, se é que posso definir assim, que fez a gente decidir a seguir essa linha dentro dos clientes.

Quando eu voltei para o Brasil, mais especificamente no interior do estado de São Paulo, eu me deparei com uma guerra por territórios entre os restaurantes. A hamburgueria do bairro A vive em constante pé de guerra com a do bairro B, e a ideia de existir uma parceria entre as duas parece ser impossível. Cada um olhando para dentro sem pensar que uma mão pode lavar a outra, e todos na comunidade podem crescer juntos. Então, em uma conversa sobre o assunto, alguém me disse que eu precisava conhecer o CaféLa, um café muito bem feito com aromas de comunidade, boas ações e grandes ideais em suas estruturas… e ficava apenas 5 minutos da minha casa. Claro que fui conhecer, e quero contar um pouco dessa história para vocês!

A primeira vez que entrei me deparei com um local bem diferente. Vi ao fundo uma bela de uma horta, muitas mensagens de positividade, muito verde, mesas organizadas e, o que mais me chamou a atenção, foi ver o staff meio tímido – pelo menos as pessoas com quem eu havia tido contato. Entretanto, ao me levantar e ir fazer meu pedido me deparei com uma pessoa com um sorriso enorme, uma energia boa, uma risada alta e uma simpatia de quem parecia que te conhecia há anos. Imagina aquela sua amiga doida que você adora ter por perto… é a imagem que a Ali, a dona do CaféLa, me passou. Teóloga, mãe, filha de missionários e nascida no Texas, ela é casada com o Mark e ambos são donos da ONG Crescimento Limpo, que há 10 anos ajudam moradores de rua, refugiados e todos aquelas pessoas que precisam de um recomeço. 

AGORA BORA LÁ QUE O CAMINHO É LONGO, MAS EU VOU LEVAR VOCÊS JUNTOS COMIGO PARA EXPLICAR A RELAÇÃO DO CAFÉLA COM A ONG CRESCIMENTO LIMPO…

Em 2008 Mark e Ali decidiram sair de Ohio, onde moravam, e vir para o Brasil – mais especificamente em Itu onde os pais da Ali moravam. Ao chegar aqui é claro que eles viram uma realidade muito diferente do que eles estavam acostumados, e de imediato decidiram fazer algo para a nova comunidade da qual eles fariam parte. “Começamos a fazer almoço na nossa casa aos domingos para os moradores de rua da cidade e chamamos de Almoço ChicShow” – disse Ali antes de soltar uma gargalhada por causa do nome escolhido. “Então nesse dia, eles poderiam tomar banho, lavar roupas, fazer a barba, comer, conversar, desabafar, rir e ter um domingo “em família”, de certa forma.”

O Almoço ChicShow foi crescendo e as histórias de vida, desabafos e sentimentos foram crescendo também, o que tornava cada vez mais difíceis os finais desses domingos, quando todos saíam pela porta em direção às ruas. Segundo Ali, começou-se a observar que muitos queriam ter uma casa pra morar, e que como ONG, poderiam pensar numa solução para essas pessoas. Entretanto, os que queria continuar na rua eram os que precisavam de mais atenção porque o problema não era apenas um teto ou um banho, mas sim saber os sentimentos e medos que passavam em suas cabeças para entender o motivo de preferirem morar nas ruas.

“Pedro, os motivos são todos psicológicos. Eles estão nas ruas por algum acontecimento que os desestabilizaram e se tornaram um gatilho. A morte de alguém muito próximo, uma traição, uma dívida e muito mais.” – me explicou Ali. O fato de eles não confiarem mais em ninguém fez com que eles se isolassem, e a falta de confiança por parte da rede de apoio fez com que eles não tenham mais para onde ir. (Por rede de apoio, entenda-se famílias e amigos que já deram inúmeras oportunidades e já desistiram). Além de que muitas dessas famílias são enfraquecidas tanto psicologicamente quanto economicamente, o que faz com que eles deem prioridades para outros problemas.

Foi a partir desse momento que Ali e Mark perceberam que eles precisavam oferecer além de moradia e comida, uma rede de apoio com acompanhamento profissional em diversas áreas: psicológico, ensino básico e técnico, carreira e preparar essas pessoas para um novo recomeço. Essa ajuda fez com que essas pessoas que precisam começassem a pensar mais positivamente em um novo futuro, uma nova profissão, além de superar e resolver os problemas do passado. Mas por outro lado, o mercado não estava tão aberto assim. Lembra o que falei sobre a falta de comunidade lá em cima? Sobre a falta de uma mão lavar a outra? Então, aquelas pessoas que eram ajudadas pela ONG não conseguiam se realocar no mercado de trabalho por não ter uma profissão nos últimos anos, pela falta de experiência profissional, timidez e insegurança entre outros motivos.

Com tudo isso na mesa e com a percepção do tamanho da responsabilidade que eles tinham, era hora da ONG usar todas suas cartas para reverter esse jogo. Com a ideia de acrescentar experiência no currículo dessas pessoas que precisavam, e prepará-los na prática para o mercado de trabalho, agora fica fácil juntar o CaféLa com a ONG, não é? Primeiro surgiu a ideia da horta, aquela que citei no começo desse texto como a primeira coisa que me chamou a atenção assim que entrei no café. Lá, após algumas triagens e testes de aptidão cada um teria sua função dentro da empresa. “Precisamos saber em que essas pessoas são boas na prática, e não apenas respondendo perguntas”, explicou Ali. 

Um pouco depois surgiu o CaféLa, em 2016. Pensa em Capela, mas troca o P por F, e de certa forma foi ali que muita coisa se encaixou. “Criamos um local sagrado cheio de energia boa e positividade em sua essência, porém não queríamos que tivesse o peso da palavra igreja.” disse Ali. Pela ONG já passaram aproximadamente 450 pessoas e sua maioria conseguiu uma nova vida e uma readaptação na sociedade. No café, a rotatividade de funcionários é alta e é assim que é possível mensurar o sucesso do projeto. Hoje, dos 12 colaboradores 8 são pessoas acolhidas pela ONG!

“Sabe o que é legal Pedro? Ver a volta que a vida pode dar. Como estamos próximos ao fórum, muitos funcionários de lá almoçam aqui. É como se eles falassem: Ontem vocês estavam me julgando pelas minhas atitudes e hoje estou aqui trabalhando e te servindo. E as pessoas do fórum compreendem isso e ficam felizes.” explicou Ali.

“E o Almoço ChicShow?” – perguntei. O CaféLa não abre aos domingos simplesmente porque nesse dia acontece o almoço tradicional onde tudo começou. Então se você quer conhecer o CaféLa e só pode de domingo, será super bem-vindo para ajudar a preparar tudo, servir e dar um dia incrível para essas pessoas que precisam. Nesses almoços acontecem palestras, workshops e muito mais. Até acampamento bilíngue eles organizam!

MAS AGORA VAMOS FALAR UM POUQUINHO DO QUE É SERVIDO NO CAFÉLA…

Sempre que vou lá, peço uma das minhas combinações preferidas: pão de queijo waffle que é servido com requeijão, que fica tão bom junto com um cafézinho coado e às vezes uma salada de frutas. No almoço, ele têm diversos tipos de saladas, sanduíches e sobremesas. Mas minha salada favorita é o Buddah Bowl, que é um bowl com homus, legumes e torradas! Também gosto do sanduíche de frango com pesto que é incrível.  Agora que se quiser provar de tudo, monte um combo e saia feliz da vida! Veja as fotos abaixo lá do insta deles (@ca.fe.la).

E em relação às sobremesas, Ali queria trazer algo que fosse tão comum nos EUA mas não muito aqui. Foi então que sua mãe ofereceu a sua receita secreta de torta de maçã! Vocês podem tanto comprar uma fatia com sorvetes ou levar uma inteira para casa. Ainda gostaria de provar mais? Eles têm sucos, açaí, parfait de iogurte, cold brew, pãozinho na chapa, cookies, granola caseira e muito mais. E claro que você pode comprar o que quiser da horta deles, tudo fresco e pronto para ir para seu prato!

O CaféLa fica localizado na Rua Bahia nº 49, no Bairro Brasil, na cidade de Itu.

Eles abrem de Segunda a Sexta das 8:30h as 17:30h e de Sábado das 8:30h as 13:30h.

O que acharam do CaféLa? Segundo a Ali, tanta gente conhece mas ao mesmo tempo é desconhecido muita gente. Então essa é nossa ideia aqui, mostrar as coisas boas que surgem através de pessoas boas. Vão conhecer de perto esse lugar, e não esqueçam de nos mandar fotos! Ah e claro, digam que conheceram eles através do nosso Blog, isso só nos dá ainda mais vontade de continuar fazendo isso aqui!

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Escrito por Pedro Mascovi

Antes de tudo já te digo… eu sou ranzinza. E por algum motivo desconhecido, meus seguidores gostam disto. Mas enfim, tendo isso esclarecido, podemos seguir adiante com nosso café. Ah, também sou chato com café. E essa chatisse veio dos 15 anos trabalhando como publicitário, designer, fotógrafo e filmmaker. Decidi falar de café simplesmente porque foi ele quem me deu energia para lidar com tantos projetos por tanto tempo. Por isso criei em Outubro de 2022 o Instagram @cadadiaumcafe e estou aqui para apresentar orgulhosamente meu MidiaKit pra vocês.

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Se tem uma coisa que eu levo a sério, é o meu momento com o café. Mas parece que o universo sempre tem outros planos, seja com motos barulhentas, conversas sem fim sobre futebol ou aquele cidadão que insiste em usar o viva-voz em público. Foi aí que eu percebi: precisava de um jeito sutil (ou nem tanto) de deixar claro que algumas pessoas só querem tomar café em silêncio. E assim nasceu o *A Very Silent Coffee Club*.
Acredito que esse post de hoje vai ajudar quem quer passar uma temporada em outro país, ou até mesmo na Austrália onde tive a minha experiência e quero dividir com vocês. Trabalhar com café é um trampo super agradável, que ajuda você colocar o inglês 100% em prática, que vai fazer você conhecer (na maioria das vezes) pessoas super agradáveis, além de ganhar um dinheirinho e ainda tenha um tempinho de sobra para estudar e passear.